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BRINCAR E OBESIDADE INFANTIL
A obesidade, considerada uma doença, está crescendo de forma alarmante e entre suas graves consequências estão os aspectos psicológicos., Atualmente o que mais vemos é a surpreendente e exagerada tarefa escolar priorizando o desenvolvimento intelectual sem se dar conta do alto preço a ser pago por esse exagero.
Nossas crianças não brincam mais... que pena...
Vejo crianças escravizadas por tarefas escolares e pela demanda de uma globalização e competitividade exagerada. É o mundo do excesso. As brincadeiras de crianças são de suma importância para o bom desenvolvimento físico e emocional de nossas crianças. Por meio de brincadeiras, as crianças estabelecem uma forma de contato com o mundo interno e externo, interagindo entre eles. Se a criança brinca é porque está bem. O brincar revela que ela é capaz de desenvolver um modo de vida pessoal e de se transformar em um ser humano integral.
É de grande relevância para a vida da criança e seu futuro que ela saiba e consiga brincar.
É necessário que a criança se identifique com um lar e com um ambiente emocional adequado e estável, onde haja amor e onde os pais a vejam como pessoas totais para que assim possam tornar-se uma pessoa com uma personalidade rica e equilibrada, para que consigam se adaptar ao mundo.
Porque as crianças precisam brincar?
As crianças brincam para dominar suas angústias, ou seja, para controlar as idéias ou impulsos. Quando há ameaça de um excesso de angústia, o brincar se torna compulsivo ou repetitivo, ou, ainda, a criança busca exageradamente os prazeres da brincadeira, é o que vemos nos viciados em vídeo games e/ou computador. Se a angústia é muito grande, o brincar acaba se transformando em pura exploração da gratificação sensorial, e não em uma atitude propriamente feliz. Nesse caso, as únicas maneiras de relação com o exterior são o fazer e o ter, como o ato de comprar, consumir e comer como formas de preencher o vazio angustiante, o sentimento de solidão e acalmar a sensação de ansiedade intolerável.
Através da brincadeira a criança pode reparar um ego danificado e sair da ilusão de onipotência que a comida lhe traz.
A criança que brinca apresenta desenvolvimento emocional saudável e feliz. Através da brincadeira, adquire experiência de vida e bom desenvolvimento biopsíquico social. Enriquece seu desenvolvimento interno e externo. Brincando, a criança aumenta sua capacidade de enriquecer o mundo real através da possibilidade de simbolizar e conviver socialmente. O brincar proporciona organização para estabelecer relações emocionais para o bom e saudável desenvolvimento humano e social, trazendo um sentimento de que pertence ao mundo. O brincar auxilia no processo de unificação e integração social da personalidade, ou seja, serve como ligação entre a relação do indivíduo com a realidade interior e a relação com a realidade externa ou compartilhada. Representa a transição da criança de um estado de fusão com a mãe para um estado de relacionamento com a mãe como algo externo e separado. Representa, ainda, o encontro entre o mundo psíquico e o mundo socialmente construído.
O brincar e a mãe correlacionam-se mutuamente. Tanto a falta do brincar e a falta da mãe, ou de sua função, faz com que a criança parta em busca de atividades excitantes, pois a falta destes traz a perda da área intermediária de contato afetivo. Essa situação se agrava ainda mais quando a criança se sente abandonada e se torna incapaz de brincar, de ser afetuosa ou aceitar uma afeição. Elas acabam por apresentar dificuldades de simbolizar e de criar.
O verdadeiro brincar infantil não é um brincar fingido, artificial e sem implicações, mas sim uma preocupação e compromisso com os elementos da brincadeira.
É no brincar e somente no brincar que o ser humano pode ser criativo e usar toda sua personalidade. É por meio da criatividade que ele se descobre. Isso ocorre porque, ao vivenciar o espaço transicional, a criança consegue fazer uso de determinado objeto de maneira pessoal. O brincar, ou seja, a aceitação de símbolos possibilita à criança experimentar aquilo que está presente em sua íntima realidade psíquica pessoal, base do crescente sentido de identidade. Neste ponto, é importante ressaltar que somente o seu eu verdadeiro, tem possibilidades de se sentir real, o que permite ao indivíduo adquirir, ao longo da vida, um mundo interior original e pessoal, que represente seu estilo de ser pessoal.
Ao contrário do que muitos pensam, o brincar é essencial para um futuro brilhante na área profissional. Pessoas que não puderam ter experiências que lhes dessem um sentido para o eu, não sentem que podem ter fecundidade no mundo, que podem ter uma ação e transformá-lo de forma pessoal. Eles vivem uma impotência básica, uma castração do ser.
É necessário que no ambiente familiar e social haja lugar para o brincar e para as relação pai/mãe, pois esse ambiente oferece possibilidades para a criança desenvolver-se e passar do período da ilusão para o da desilusão, ou seja a criança, nesse ambiente passa da imaturidade para a maturidade. Entra em contato com o ambiente e consigo mesma. Atualmente estas funções estão sendo substituídas por tarefas escolares e por outras pessoas do convívio familiar. Pai e mãe preocupados com suas questões internas e idealizadas acabam delegando suas funções parentais a terceiros.
Estudo feito por Fernanda Kimie Tavares Mishima sobre a obesidade infantil, revela que crianças obesas apresentam sinais de dificuldade no processo criativo e que não dispõem de habilidade para brincar de uma maneira criativa e espontânea, em que pudessem mostrar seu estilo de ser pessoal. Relata, ainda, que apresentaram características de medo, baixa auto-estima, inferioridade e dificuldade no contato com os outros, agressividade, solidão e atitudes de muita passividade, como se a angústia tomasse conta, mobilizasse e paralisasse a busca de solução para o conflito.
A busca excessiva das crianças por alimento pode ser considerada um sintoma de grande ansiedade, sugerindo dificuldades psíquicas, afetivas e relacionais, podendo ser uma tentativa de superar a dor mental e a necessidade de preencher a falta do objeto materno, revelando uma falha estrutural da relação mãe/filho.
Dito de maneira mais específica, as crianças obesas, ao vivenciarem o processo de ilusão – desilusão, tiveram uma figura materna que possibilitou, até certo ponto, a crença de serem capazes de criar um objeto, porém, ao desiludir, fizeram-no de forma muito brusca, retirando subitamente todo o apoio e satisfação das necessidades. Essa experiência produziu na criança uma dificuldade de vivenciar a experiência de frustração da onipotência, levando a prejuízos em sua constituição, passando a acreditar que não podiam ter ação e transformação no mundo, que não podiam modificá-lo de maneira pessoal.
O brincar vem então como uma ferramenta para o tratamento da obesidade e sua prevenção. Vem representar o contato entre a psique e a realidade, possibilitando a superação da dificuldade de existir, ser e agir.
O trabalho terapêutico implicará na construção de uma relação que permita o reconhecimento de si e do outro, a possibilidade de brincar e criar. Esse processo além de ser visto como importante no tratamento da obesidade, também se mostra relevante para o desenvolvimento emocional posterior do indivíduo, a fim de amenizar as conseqüências psíquicas e o preconceito vivenciado por essas crianças quando se tornam adultos obesos.
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